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Insurtechs prometem revolucionar seguros

Com novas tecnologias, startups estão ajudando a modernizar a operação de seguros.

O mercado de seguros está prestes a enfrentar uma onda de mudanças sem precedente provocada pela revolução tecnológica. A rápida disseminação de tecnologias e conceitos, como machine learning, drones, Internet das Coisas (IoT), Big Data, blockchain, chatboats e outros, deverão causar a ruptura de práticas tradicionais e impactar a forma de distribuição, monetização, comunicação e consumo de seguros. De acordo com estudo da empresa de consultoria e tecnologia Indra, produzido no ano passado, as tecnologias de ruptura estão impulsionando a aparição de novos produtos com um alto impacto potencial no negócio de seguro, como carros conectados, casas inteligentes, cibersegurança ou atendimento médico não presencial.

O principal estímulo para essa revolução tecnológica no mercado de seguros tem nome e propósitos bem definidos: insurtechs. Essas empresas nascentes são startups que utilizam tecnologias variadas na oferta de produtos e serviços para o consumidor de seguros ou produtos e tecnologias para seguradoras, semelhante ao que aconteceu no setor financeiro com as famosas fintechs. As insurtechs estão inaugurando um novo modelo de relação digital com o segurado, baseado na maior interação, trazendo novidades como o seguro por assinatura e até por hora, o atendimento por robôs virtuais, os seguros on-demand e os descontos em seguros com base no monitoramento da forma de dirigir e da saúde do segurado.


“Para o setor segurador atual, as Insurtech representam mais uma oportunidade que uma ameaça ao servir como banco de provas de novas ideias e modelos de trabalho facilmente replicáveis pelas seguradoras. O novo ecossistema soma-se, além disso, à capacidade de inovação destas empresas com as capacidades de outros atuantes, como operadores (contratação móvel), companhias elétricas, de perícia digital, fornecedores de cibersegurança ou TPP (Third Party Providers), entre outros”, explica Miguel Ángel Gonzalez San Román, diretor de Soluções Digitais na Minsait, unidade de transformação digital da Indra.


Mapeamento

No Brasil, existem, atualmente, 40 insurtechs registradas pelo Comitê de Insurtechs da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (camara-e.net), que iniciou um mapeamento desse ecossistema no final do ano passado. O número ainda é pequeno diante das 550 insurtechs que existem em todo o mundo, segundo relatório global da corretora de seguros Aon, divulgado no final de 2017. Mesmo assim, mostra que o número no Brasil não para de crescer.


“Ainda estamos bem atrás de outros países, mas já demos um passo importante para mostrarmos o potencial que o Brasil tem para este novo mercado”, diz Gustavo Zobaran, coordenador do Comitê de Insurtechs. Para ele, um dos aspectos positivos do crescimento de insurtechs no país é a mudança – ainda que “forçada” - de comportamento do mercado de seguros. Em sua opinião, essa profunda fase de transformação é um caminho sem volta para o setor, que, de agora em diante, terá de se reinventar.

“Mais do que apenas tecnologia, trata-se de uma mudança de mentalidade. As seguradoras terão de pensar mais agilmente de modo a atender o cliente de forma personalizada, colocando-o no centro e interagindo com ele não apenas no momento do sinistro, mas também para informá-lo, por exemplo, que ainda tem direito a usar chaveiro e eletricista”, diz.


Além de impulsionar as insurtechs brasileiras, o objetivo da entidade é se tornar o hub de referência colaborativo desse segmento. “Precisamos entender melhor todo esse movimento porque queremos auxiliá-lo no desenvolvimento e inseri-lo no mundo, promovendo intercâmbios com outros países e criando um banco de talentos”, diz. Outro propósito do Comitê é auxiliar o Poder Público na regulamentação desse segmento. “Sem regulamentação, muitos negócios inovadores e disruptivos podem acabar antes mesmo de chegar ao consumidor”.


Potencial

O avanço das insurtechs é favorecido pelo aumento do número de brasileiros conectados. Um relatório apresentado durante a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, em inglês), em outubro do ano passado, revelou que o Brasil tem 120 milhões de internautas, figurando na quarta posição, atrás apenas dos Estados Unidos, com 242 milhões, da Índia, com 333 milhões, e da China, com 705 milhões.


Essa população conectada também está interessada em seguros, segundo levantamento realizado pelo Google no primeiro trimestre do ano passado. A cada mês foram registradas na internet 12 milhões de buscas sobre seguros. Destas, 10 milhões sobre seguro saúde e 2 milhões sobre as empresas seguradoras. De acordo com o estudo, 31% das buscas foram realizadas a partir de dispositivos móveis. As categorias de seguro mais procuradas são Celular (45%), Aluguel/Fiança (44%), Vida e Acidentes Pessoais (43%), Auto (42%) e Residencial (39%).


Para Gustavo Zobaran, o resultado indica para onde vai o interesse e as necessidades do consumidor de seguros e mostra áreas potenciais que podem ser ocupadas pelas insurtechs. Outra conclusão do coordenador do Comitê de Insurtechs é que essas buscas também indicam a necessidade de as empresas de seguros tradicionais mudarem a mentalidade na hora de criar e vender produtos e serviços e de se relacionar com os clientes. “A mentalidade do consumidor de seguros hoje não é mais de proteção, mas de prevenção. E é justamente a esse pensamento que as insurtechs atendem”, diz.


INOVAÇÃO

Com a proposta de reinventar o mercado de seguros, a insurtech Kakau Seguros lançou no ano passado o inédito seguro por assinatura, no mesmo conceito de Netflix e Spotfy, com mensalidades a partir de R$ 19,00. Apoiada no uso de tecnologias como inteligência artificial e big data, a startup também se destaca pelo atendimento online aos segurados por meio da assistente pessoal de seguros Anna, que está programada para aprender a cada atendimento. “Todo o histórico de conversas com a Anna fica armazenado na nuvem e serve como base de aprendizado para os algoritmos de machine learning e mesmo como insights para a própria gestão da Kakau”, explica o CEO e fundador Henrique Volpi.

Segundo Volpi, a Kakau monitora o sentimento dos usuários de produtos de seguros em todo o país, coletando dados de mercado e também em bases públicas. A empresa atua como estipulante de seguros e já detém parcerias com algumas corretoras que, inclusive, realizaram venda de assinaturas. “O conceito da Kakau é que para cada novo produto, uma nova seguradora será parceira exclusiva para este. As corretoras poderão trabalhar com todos os ramos lançados e terão os dados de seus clientes criptografados no CRM da Kakau. Ou seja, os colaboradores da Kakau não terão acessos aos dados do parceiro corretor”, diz.


Outra insurtech que está trazendo novidades é a Planetun, que pertence ao grupo de mesmo nome, com 12 anos de mercado e atuação no mercado automotivo. A solução disruptiva lançada no ano passado é o AppWeb de Vistoria Prévia para seguradoras, pelo qual o segurado pode realizar a vistoria prévia por conta própria, com o uso de celular e sem a presença de um vistoriador. A partir de um link, o segurado usa seu dispositivo móvel para enviar imagens de pontos do seu automóvel, como a diagonal traseira e dianteira do veículo, motor, chassi e documento, por exemplo. A Planetun recebe as imagens, analisa e em menos de um dia o processo de avaliação é finalizado pela seguradora.


De acordo com o sócio fundador da Planetun Henrique Mazieiro, a empresa constituiu uma equipe própria de desenvolvedores de projetos e designers para criar aplicações tecnológicas customizadas. Além do aplicativo de autovistoria, ele cita, ainda, a inspeção residencial e comércio, o app planetun p@y voltado para agilizar os processos de pagamentos das seguradoras e prestadores e a plataforma de triagem e regulação e inspeção digital. “Neste novo formato, entendo que os serviços serão cobrados de forma mais justa, trazendo economia tanto para as seguradoras, como para os segurados no futuro”, diz.

Tendências

IoT (Internet of Things): permite, entre outras coisas, conhecer de forma detalhada informação sobre um veículo e seu condutor, possibilitando assim realizar seguros adaptados à economia colaborativa. No Exterior, essa tecnologia já permite às seguradoras acompanhar a quilometragem rodada de cada veículo e a forma como o segurado dirige, quando houver anuência do proprietário, precificando de acordo com a maneira e a quantidade de quilômetros rodados.


Seguro on-demand: Na Europa, a contratação de seguros por hora, para veículos alugados por curtos períodos, é realizada por meio de um aplicativo. Em poucos passos, o segurado digita a placa, o número de horas necessárias, inclui uma foto do veículo e realiza o pagamento. No Brasil, uma corretora de seguros oferece seguro viagem nos principais aeroportos por geolocalização. O consumidor é alertado por push notification ao chegar ao aeroporto e pode contratar o seguro diretamente no smartphone, pagando na hora, inclusive com cartão de crédito.


Gamificação: Utiliza técnicas e elementos de jogos (como pontuação e competição) em situações de não jogo, para estimular o comportamento de um grupo de pessoas para um objetivo fim. Os elementos da gamificação podem tornar a experiência do cliente mais divertida, além de educar, informando sobre produtos mais adequados.


Blockchain: é uma espécie de bloco de dados que contém uma assinatura digital, chamada de “hash”, que funciona como uma impressão biométrica. O que torna a tecnologia diferente é que cada bloco contém um “hash” criptográfico da anterior, formando uma cadeia, que será transformada em um nó compacto. Assim, qualquer adulteração é facilmente detectada e controlada.


Gestão da identidade digital (redes sociais, fóruns ou blogs): facilita a obtenção de perfis únicos de cada cliente, bem como o monitoramento de opiniões e atitudes.


Fonte: Revista APTS (Edição 129) - PDF / ONLINE


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