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Resseguro segmento de transportes


Existem apólices de seguros de transportes celebradas para um único embarque – “single shipment” – comumente utilizadas por empresas que possuem pequeno volume de embarques, ocasião em que a contratação de uma apólice aberta não compensa pelo volume não ultrapassar o prêmio mínimo usualmente cobrado pelas seguradoras.


Os pré-requisitos e volumes exigidos para que uma apólice aberta seja economicamente viável são relativamente baixos, resultando que o mercado de seguros de transportes é praticamente formado por essa modalidade.


As apólices abertas são classificadas como risco decorrido na medida em que a cobrança de prêmio é efetuada após a ocorrência dos embarques. Existem dois tipos de cobrança possíveis nessas apólices de transporte: as ajustáveis e as averbáveis.


As ajustáveis são celebradas com uma expectativa de faturamento e/ ou movimentação, a qual aplicada a taxa determinada no contrato de seguro resulta no prêmio para o período que pode ser pago integralmente, ou não. É emitido um endosso ao término de vigência ajustando o volume movimentado previsto com o realizado, cobrando ou restituindo a diferença de prêmio se assim convencionado.

As averbáveis, por sua vez, possuem a cobrança periódica através da aplicação da taxa do seguro, que pode variar por percurso, limite, mercadoria, dentre outros. A periodicidade e obrigatoriedade da declaração varia de produto a produto podendo ocorrer antes do início do risco, diariamente, mensalmente etc.

Decorre que quando analisamos apólices abertas de seguro de transportes estamos tratando não de um embarque, mas sim de um conjunto de embarques com características distintas de acordo com o perfil do cliente.


Seguros de Transportes Nacional e Internacional, por envolverem um embarcador específico e em este sendo uma indústria, implicam que existe um fluxo de mercadorias e matérias primas com características similares e com rotas melhor definidas.


Transportadoras, por sua vez, costumam operar com diferentes embarcadores e possuem maior diversidade de rotas dificultando ações de gerenciamento de risco e modelagem do risco quanto a exposições. A variação do risco pode ocorrer no curso da vigência, como por exemplo a inclusão de um novo cliente implicando em uma nova mercadoria que pode agravar todos os embarques.


Imagine uma mercadoria de alto valor agregado, pronta para o consumo, de fácil comercialização e de pequeno tamanho inserida no decorrer da vigência em uma operação sem mercadorias dessa natureza. A inclusão dessa mercadoria acaba por agravar todas as outras se transportada no mesmo veículo ou armazenada no mesmo local.

Os Questionários de Transportes capturam informações sobre o segurado, tais como razão social, CNPJ, faturamento, número de viagens, composição de frota própria, tipo de veículos, contratação ou sub-contratação de transportadoras, agregados, motoristas autônomos, principais toras, valores médio, máximo e total movimentados, acúmulos, cobertura em depósitos, gerenciadora, regras de gerenciamento de riscos, principais mercadorias movimentadas, sinistralidade e condições pretendidas, tais como limites, taxas e franquias.


As seguradoras, de posse dessas informações, procedem suas análises que na grande maioria passam pelas seguintes etapas: consulta da situação financeira da empresa, enquadramento das principais rotas na tarifa de RCTR-C para obtenção de uma taxa média e posteriormente a aplicação um desconto comercial, que variará de acordo com o tipo de mercadoria e medidas de gerenciamento.


Outra análise comumente realizada pelas seguradoras é a de “Burning Costs”, ocasião em que são levados em consideração o total de sinistros e a exposição do ano anterior e a movimentação prevista para o próximo ano a taxa a ser comercializada e a projeção de sinistros face ao histórico para previsão do resultado da conta. Havendo alteração de franquia o exercício de “AS IF” é introduzido de modo a prever o comportamento da conta sob esse novo cenário.


Os corretores de resseguro costumam incluir na instrução de seus processos o que chamamos de “Portfolio Approach” aos riscos de transportes. O que significa a necessidade do envio da relação de embarques completa dos 12 últimos meses para verificação das principais rotas e faixas de valores. A técnica proporciona um melhor entendimento das exposições, eficácia das regras de Gerenciamento de Risco e evidencia os impactos a imposições de restrições ou endurecimento dessas regras e aplicação de franquias.

Verifica-se que as cedentes que operam na modalidade Ajustável possuem muita dificuldade em prover a relação de embarques e em muitos casos fica latente o total desconhecimento da operação do cliente mesmo se tratando de uma renovação.


A utilização de resseguro facultativo proporciona a diluição do risco, na medida que parte do risco é assumida pelo ressegurador, bem como a possibilidade de utilização de estruturas de proteção inteligentes que a retiram parte da volatilidade da conta. Existem Segurados que demandam altos limites sejam esses por embarque ou acúmulo resultando em exposições em que a seguradora não tem capacidade ou não deseja assumi-las integralmente.


Imediatamente pensamos em dividir proporcionalmente o risco com algum ressegurador utilizando uma estrutura “Quota Share”, ou seja, cedendo um percentual fixo de risco e prêmio e coletando proporcional montante em caso de ocorrência de sinistro. Entretanto imagine o caso de um segurado com o seguinte perfil de risco: 70% dos embarques com valores até R$ 1,0 milhão, 20% dos embarques até R$ 2,0 milhões e 10% dos embarques até R$ 7,0 milhões. Os embarques de menor valor são realizados para todo o Brasil enquanto os intermediários possuem pouca variabilidade e os de maior valor possuem rota específica. Os embarques de valores intermediários e de maior valor não são atrativos a roubo, apenas motoristas funcionários e caminhões próprios são utilizados na operação e diferentemente dos demais embarques não há registros de perdas nos últimos cinco anos.

A seguradora, nesse cenário, pode não quer ou conseguir assumir a exposição de uma perda vultosa como as propiciadas pelos maiores embarques ou ainda desejar auferir muito mais prêmio para tanto.

Utilizando-se de um resseguro Não Proporcional de Excesso de Danos (ED) ou internacionalmente conhecido como “XoL – Excess of Loss” podemos viabilizar uma estrutura de R$ 5,0 milhões em excesso a R$ 2,0 milhões em que a volatilidade seja cedida para o mercado ressegurador que pelo seu apetite de risco analisará a conta exclusivamente nos embarques que ultrapassam a faixa primaria de R$ 2,0 milhões.


O Facultativo apresenta-se como a ferramenta que viabiliza esses negócios, bem como confere a cedente a certeza de um processo com “peer review” sobre o prisma de subscrição. Existe nesse caso a subscrição da seguradora e a do ressegurador sendo que esse último muitas vezes acaba exigindo mais informações e implementando outras analises como é o caso do “Portfolio Approach” descrito anteriormente.


O resseguro também propicia a troca de experiências, a transferência de conhecimentos sobretudo quando falamos de Transportes Internacionais ocasião em que regras e taxas específicas para coberturas como Guerras e Greves, Terrorismo, Classificação de Navios etc são definidas por esses mercados.


Garantias como “STP – Stock Through Put, DSU – Delay Start Up”, dentre outras extensões de garantia comumente utilizadas no mercado internacional, bem como as considerações pertinentes a esses riscos, são alvo de debate para a sua implementação e acabam por enriquecer as discussões como também o entendimento do funcionamento dessas garantias localmente.

O resseguro facultativo viabiliza garantias, oferece diluição de risco, disponibiliza estrutura alternativa alocando cada mercado segundo seu apetite e assim possibilitando eventual redução de prêmio. Entretanto, a utilização do resseguro não muda a realidade, ou seja, não muda o histórico de sinistros e o resultado financeiro da conta.


Domingos Pozzetti, especialista em Transportes da ARX-Re Corretora de Resseguros, atuou por mais de 10 na área de transportes em seguradoras. É engenheiro químico pela Universidade Mauá, pós-graduado em Gestão de Seguros e Previdência Privada pelo Mackenzie e possui MBA pelo Insper.

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