Crise se aproxima do setor de seguros
Apesar dos resultados positivos, o produto de maior rentabilidade do setor, o VBGL, apresentou resultado inferior à inflação média.
Nos últimos anos, o VGBL vem impulsionado os resultados do mercado de seguros. Em novembro 2015, por exemplo, o faturamento do VGBL e da previdência privada foi maior que a receita de todos os ramos (exceto saúde) – R$ 9,2 bilhões contra R$ 7,4 bilhões –, de acordo com a “Carta de Conjuntura do Mercado de Seguros”, produzida pelo economista Francisco Galiza e divulgada pelo Sincor-SP, com dados apurados pela Susep. Neste ano, porém, um estudo do consultor Luiz Roberto Castiglione, com base nos dados publicados pela Susep, indica que a situação está mudando.
De acordo com o estudo, o VGBL e também o PGBL continuam contribuindo para a manutenção das vendas globais, porém, já apresentam resultado inferior à inflação média do período. Castiglione apurou que o resultado do VGBL e do PGBL em 2015 registrou crescimento nominal de 19,41%. As receitas passaram de R$ 79,6 bilhões em 2014 para R$ 95,1 bilhões em 2015. Mas, o crescimento real foi de 7,89%, abaixo do IPCA de 10,67% no período. “Ficam claros os efeitos da recessão da economia”, conclui o consultor.
Já a produção global do setor de seguros somou R$ 224,2 bilhões em 2015 contra R$ 204,6 bilhões em 2014, representando um crescimento nominal de 9,62% e real de (-) 0,95. Excluindo desse resultado os dois produtos financeiros, VGBL e o PGBL, o volume de vendas do mercado atingiu R$ 129,1 bilhões, resultado 3,38% maior que os R$ 124,9 bilhões registrados em 2014, o que representa um crescimento real de (-) 6,59%. O segmento de seguros apresentou crescimento nominal de 4,61% e real de (-) 5,47%. Nesse período, a previdência tradicional obteve crescimento nominal de 4,31% e a capitalização uma queda nominal de 2,3%.
Rentabilidade
Apesar da queda do PIB de quase 4% no final do ano passado, com as taxas inflacionárias anuais já se situando nos dois dígitos, o seguro não piorou na mesma proporção da econômica, segundo o economista Francisco Galiza. Um dado positivo, segundo ele, é que não houve queda expressiva nas margens de rentabilidade das principais companhias do segmento, apesar do cenário de maiores dificuldades. Entre 2013 e 2014, o lucro líquido acumulado das empresas de seguros apresentou variação de 17% (R$ 17,4 bilhões para R$ 20,3 bilhões).
Nos dados parciais até novembro, contabilizados pelo economista, a variação entre 2014 e 2015 foi de 10% (menor que os 17% do ano anterior). Mas, a evolução do lucro liquido foi parcialmente satisfatória, em sua opinião, considerando o cenário econômico. A taxa de juros mais elevados no exercício de 2015 é um fator importante nesse componente, além do ajuste de seus próprios custos diretos. “Esse fato compensou a evolução de faturamento bem mais modesta”, diz.
Segundo o estudo, o comportamento da economia tem influência direta no mercado de seguros. Assim, o setor deve desacelerar, em virtude do PIB negativo, mas apresentará ganhos, em termos nominais, ou seja, sem considerar o avanço da inflação. Essa composição fará com que as variações por segmento, em alguns casos, sejam similares às do ano anterior. A previsão atual é que somente a indústria de seguros (sem saúde suplementar) cresça 6% em 2015, abaixo do índice de 2014, que foi de 10%. Para 2016, a projeção é de um crescimento de 9%.
Resultado financeiro
De acordo com os dados da Susep, as despesas administrativas tiveram crescimento de 11,6% (acima da inflação), entre janeiro e novembro de 2015, em comparação ao mesmo período do ano anterior. Já o resultado financeiro mostrou aumento expressivo de 30,9% e o resultado patrimonial caiu 2,4%. Com isso, o lucro agregado do setor teve aumento de 10,6% em termos nominais e, dada a inflação de 8,9% no período (IPCA) no período, elevação real de 1.6%.
O quadro atual lembra um pouco o que o mercado de seguros praticou na década de 80. Esta é a opinião de Bruno Kelly, corretor de seguros e responsável pelo gerenciamento de riscos da Correcta Consultoria. Em palestra online promovida pela Funenseg, no final de janeiro, ele lembrou que nos anos 80, em virtude da alta inflação, as seguradoras priorizavam as aplicações em detrimento do resultado industrial. “As aplicações eram como uma muleta para as empresas, que compensavam a ineficiência com ganhos no giro financeiro”.
Kelly se recorda que, naquela época, quase não havia seleção de riscos. “As empresas aceitavam a maioria dos riscos, porque o importante era obter recursos para aplicação no mercado financeiro”, disse. Mas, apesar do cenário atual parecido com o daquele período, ele destaca que as diferenças são muitas. “Hoje, as seguradoras são mais eficientes e criteriosas do que eram na década de 80 e praticam a seleção de riscos”, disse.