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Inovação não precisa ser disruptiva

Segundo Jéssica Dalcol, inovar é resolver novos ou antigos problemas de novas formas. Mas, não precisa ser disruptiva ou usar tecnologia.


Na era digital, muitas inovações são tachadas de disruptivas. Mas não é bem assim, segundo Jéssica Marcon Dalcol, economista, sócia da DM4 Seguros e da Muquirana Seguros Online e professora na Unicamp e na Escola Nacional de Seguros (ENS). Especialista em Tendências de Inovação pela Inova, ela apresentou palestra sobre Inovação no mercado segurador por ocasião da apresentação do MBA Executivo em Negócios de Seguros da ENS.


Antes de iniciar o tema, Jessica optou por analisar o que é inovação. Segundo ela, toda inovação sempre envolverá um dilema, sobretudo se o produto ou negócio for bem-sucedido. O dilema é: “Se está dando certo, então, por que inovar? ”. Mas, a professora mostrou que às vezes vale a pena inovar mesmo que o negócio seja bem-sucedido. Um case famoso é o da Blockbuster, que foi líder no ramo de serviços de aluguel de filmes e games. “A Blockbuster recebeu proposta para comprar a Netflix, mas não acreditou. O resultado, todos sabem”, disse.


Jessica explicou que existem dois tipos de inovação: disruptiva e incremental. “Na disruptiva, a inovação quebra a trajetória de um processo e muda a forma de fazer as coisas. Daí, então, essa trajetória deixa de existir ou continua ao lado de outra que faz de maneira diferente. Já a incremental, não rompe ou substitui o que está sendo feito, mas continua de uma maneira mais eficiente”, esclareceu.


Um dos exemplos de disrupção é a seguradora americana TROV, que oferece seguro on-demand para, por exemplo, garantir a bicicleta, o celular e a câmera de um ciclista apenas no período em que ele estiver passeando. “É o seguro liga-desliga”, disse. Outro exemplo é a Jooycar, startup chilena que atua no sistema pas as you drive, com o uso telemetria. Um aplicativo monitora a forma de dirigir do segurado e precifica o seguro com base no seu comportamento no trânsito. “É disruptiva porque muda a precificação e a forma de relação com o cliente”, disse.


Dentre os exemplos de inovação incremental, Jessica citou a Porto Seguro como uma seguradora bem-sucedida nessa área por investir no segmento de cartões de crédito e também de seguro saúde para animais. “A seguradora oferecia a assistência para cães e gatos no seguro residencial, mas viu que era possível agregar valor oferecendo este produto também fora do seguro”, disse.


A professora foi além e citou empresas consideradas disruptivas, como Bidu, Compara Online e Minuto Seguros, afirmando que são, na verdade, inovações de trajetória. “Estas empresas fazem o que já era feito em outros mercados. Portanto, não são disruptivas”, disse. Segundo ela, a inovação disruptiva tem a vantagem de atrair o olhar das pessoas e da mídia, mas tem o seu lado ruim. “É muito difícil criar algo novo, investir recursos e capital intelectual, porque será novidade apenas enquanto não for copiado”, disse.


Para Jéssica, a inovação incremental é menos onerosa e mais lucrativa, com a vantagem de ser sigilosa. “Trata-se de melhorar um processo que já existe, que pode ser interrompido se não der certo e com menos chance de ser copiado”, afirmou. Segundo ela, as seguradoras brasileiras adotam os dois modelos de inovação, mas são cautelosas. “Nas inovações disruptivas, as seguradoras criam aceleradoras ou hubs para atrair e testar boas ideias. Se der certo, implantam sem comprometer a atividade principal”, disse.


A professora explicou que a inovação pode ocorrer em quatro arcabouços. Em modelos de negócio (como a Nespresso que lucra não com a cafeteira, mas com a assinatura da venda de capsulas de café); em mercado (como a Suhai que iniciou na área de segurança e decidiu criar uma seguradora para riscos que outras seguradoras rejeitam); em produtos (caso da Sompo que criou o inédito produto de seguro para cadeiras de rodas); e em processos (como a vistoria feita pelo próprio segurado, adotado por várias seguradoras).


“Muitos dizem que para inovar precisam de tecnologia, mas esse argumento está ultrapassado. A tecnologia é apenas um acessório da inovação”, disse.


Fonte: Revista APTS Notícias (ed. 135/136) | Texto: Márcia Alves


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