É inegável que a contratação de seguros cresceu no Brasil, mas, ainda assim, o setor poderia estar muito mais presente no dia a dia da sociedade brasileira.
Nos últimos anos, o país apresentou um cenário de crise econômica e política que desacelerou o crescimento do setor. Mesmo assim, o segmento continuou a apresentar crescimento. Apesar de o Brasil ser a oitava economia do mundo, é o 12º colocado no ranking de seguros e 45º em arrecadação per capita em seguros. O setor tem grande potencial de crescimento principalmente quando se lembra que apenas 30% da frota de veículos nacional têm seguro, somente 14% das residências têm proteção securitária e poucos brasileiros (24% da população) têm cobertura de plano de saúde privado.
E quando o assunto é previdência privada – tema que tem ganhado destaque devido às discussões sobre a reforma da previdência -, o potencial é ainda maior. Apenas 9% da população em idade ativa ou 13% da economicamente ativa possui planos de previdência privada. Outras apostas que poderiam garantir um bom desempenho para o setor são o seguro de vida e o seguro para pequenas e médias empresas, além do rural e planos odontológicos.
Outro fator essencial para o crescimento do mercado de seguros no Brasil é o crescimento do PIB, do emprego e da renda. Alberto Ajzental, professor de economia da FGV-PEC (Programa de Educação Continuada da FGV), lembra que a previsão de crescimento do PIB para 2019 é de 1%. “É um desempenho pífio”, diz ele. O país tem 12 milhões de desempregados e metade das famílias está endividada.
É inegável que o mercado de seguros contribui para o desenvolvimento da economia de um país. Um país de economia forte tem um mercado de seguros forte. Isso já foi dito inúmeras vezes. O seguro contribui na geração e, também, na proteção da renda pois ajuda na formação de poupança. Basta pensar na previdência privada e na capitalização que são produtos claramente baseados na formação de poupança.
Os recursos das provisões técnicas das seguradoras e outras empresas do mercado são investidos em fundos de investimento de perfil conservador e de longo prazo, ajudando assim a financiar os setores público e privado que emitem os títulos que compõe as carteiras desses fundos.
Dessa forma, as seguradoras ajudam a criar liquidez para investimentos de longo prazo. O que é decisivo, por exemplo, no momento econômico atual enfrentado pelo Brasil. Essa atitude ajuda que a atividade econômica continue.
Diante do atual cenário econômico de desemprego e queda na renda, Ajzental diz que a classe C tem outras prioridades e “o seguro não é gênero de primeira necessidade”. “O mais provável é que haja uma manutenção nas carteiras”, prevê. Nesse sentido, diz ele que o quadro não é pessimista nem otimista. “É um quadro ruim, no geral”. Para o economista, as carteiras de saúde, previdência privada, automóvel e outras estão perdendo massa. Ele reitera que o problema é o desemprego e a queda da renda. “O que vai acontecer é que as pessoas vão migrar para seguros mais completos e mais baratos. A massa salarial é menor. São menos pessoas empregadas e quem está trabalhando ganha menos. Tem muita gente sem renda”, diz.
O professor da FGV lembra que na hora do aperto, a tendência é que as pessoas cortem o supérfluo e, no cenário de crise vivido pelo Brasil, o segmento de automóvel registrou queda na venda de veículos zero quilômetro e, claro, também na venda de seguro auto, mas não foi só. “A crise nas contas públicas fez com que o governo suspendesse investimentos em infraestrutura e, com isso, o seguro de grandes riscos também sofreu”. O que o setor fez? Passou a pulverizar mais os produtos e nesse movimento carteiras como vida e previdência são itens essenciais para mover o mercado segurador, bem como a conquista de novos consumidores com produtos inovadores que estão sendo desenhados pelas companhias que buscam minimizar a lacuna de proteção que as estatísticas mundiais nos mostram”, diz Márcio Coriolano, presidente da CNseg.
Coriolano ressaltou que as estrangeiras aumentaram suas apostas no setor segurador. Enquanto as seguradoras ligadas a bancos registraram aumento da participação de 2008 para 2018 de 86% para 89% em cobertura de pessoas, as estrangeiras avançaram em ramos elementares, passando de 46% para 48% considerando as seguradoras ligadas a bancos e de 29% para 36,7% no nicho de sociedades vinculadas a instituições estrangeiras. “Isso foi fruto da aquisição de carteiras de grandes riscos de bancos, como da Bradesco pela Swiss Re, ou da Itaú pela Chubb”, citou.
A questão da regulação no mercado de seguros é fator importante nos últimos anos e ajuda a tornar o setor mais dinâmico e com boa competitividade. Isso contribui para atrair empresas estrangeiras que veem potencial e apostam suas fichas no mercado brasileiro. A Swiss Re que assumiu a carteira de grandes riscos da Bradesco é um exemplo. Além disso, a autorização para venda de seguros por meios remotos, a instalação da comissão de inovação e insurtech mostram que o mercado se movimenta no sentido de atrair consumidores.
As estatísticas mostram que o mercado segurador brasileiro não deixou de crescer por conta da crise. Apesar do cenário diverso da economia, as perspectivas e expectativas do setor ainda são boas. A Federação Nacional dos Corretores de Seguros (Fenacor) faz, constantemente, um acompanhamento da confiança do mercado segurador. O mercado vem em uma sequência de otimismo apostando no crescimento da economia brasileira nos próximos seis meses.
O cenário brasileiro mais que inspira cuidados. Os dados mostram que investimentos em infraestrutura devem ser os menores em 2019 enquanto os gastos com previdência só aumentam. O mercado espera a reforma da previdência, não só porque pode ser beneficiado com a ampliação da venda de previdência privada, mas porque se o estado conseguir controlar as contas públicas, outros setores da economia serão beneficiados e isso resultará na geração de empregos e investimento em áreas que o país tanto precisa.
O mercado de seguros tanto aposta na melhora da economia brasileira que se prepara para atender os consumidores. As companhias investem para acompanhar a revolução tecnológica que está em curso e busca desenvolver soluções que contemplem os clientes. Sem esquecer, claro, de estar pronto para oferecer proteção ao crédito, à saúde e também ajudar na formação da poupança. A questão que fica é: quando a economia brasileira vai se recuperar para o mercado de seguros?
Foto: Alberto Ajzental, professor da FGV
Fonte: Revista APTS Notícia (Ed:134 )
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