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Resiliência para uma vida longeva

Evento discute esta e outras condições essenciais para ter qualidade de vida na velhice


Saúde, conhecimento, social e financeiro. Estas quatro palavras compõem a fórmula da qualidade da vida longeva, que podem ser resumidas em uma única: resiliência. “É preciso construir a nossa capacidade de recuperar a normalidade após enfrentar as adversidades. Além de cuidar dos nossos capitais fundamentais — a saúde, o social, o conhecimento e as finanças — precisamos de um propósito na vida. Temos de acordar no dia seguinte com mil coisas para fazer, e não reclamando da velhice", disse Alexandre Kalache, conselheiro sênior sobre Envelhecimento Global da Academia de Medicina de Nova York (The New York Academy of Medicine) e ex-coordenador de programas de envelhecimento da Organização Mundial da Saúde (OMS).


Kalache e outros especialistas participaram do XII Fórum da Longevidade, promovido pelo Grupo Bradesco Seguros, dia 18 de outubro, em São Paulo, com o tema “Construindo a Qualidade da Vida Longeva”. Segundo o presidente do Grupo Bradesco Seguros, Octavio de Lazari Jr., viver mais e com qualidade de vida se tornou uma causa para o grupo, que decidiu se tornar agente desse processo, estimulando as pessoas à reflexão. “Se não podemos parar o tempo, podemos, ao menos, escrever com nossas próprias mãos o livro de nossa história de vida. Por isso, promovemos esse encontro há 12 anos", disse.


Atualmente, no Brasil, 24 milhões de pessoas têm mais de 60 anos, o que representa quase 13% da população, segundo o IBGE. Estimativas da Organização Mundial de Saúde apontam que, em 2050, esse número chegará a 64 milhões, o que significa que, de cada dez brasileiros, três serão idosos. “Hoje no Brasil temos mais de 30 mil pessoas com 100 anos ou mais. É uma turma cada vez mais saudável, que mostra o aumento da expectativa de vida no país. O dado mostra a necessidade da rediscussão de vários temas pela sociedade, para atender esses idosos”, disse Jorge Nasser, diretor Geral da Bradesco Vida e Previdência. “Se vamos viver mais, devemos nos planejar financeiramente para ter um envelhecimento ativo e saudável”, disse Alexandre Nogueira, diretor.


Nunca é tarde para mudar

O arquiteto alemão Matthias Hollfich, autor dos mais renomados projetos arquitetônicos mundiais que contemplam áreas sociais, destacou a importância de viver a longevidade em grupo. "Vivemos juntos e, de repente, nos colocam fora da sociedade, mas nós queremos fazer parte dela. A ideia da New Aging é mudar essa lógica. O que propomos é uma revolução de costumes e comportamento. E essa revolução começa em nossas próprias vidas. Em vez de combater o envelhecimento, algo que faz parte da vida de quem avança em idade, devemos procurar vivê-lo de maneira sustentável e com qualidade, integrando os mais jovens e os mais velhos em ambientes que estimulem as trocas e não o isolamento".


Kalache debateu acerca dos caminhos para prolongar a vida saudável. Segundo ele, precisamos do Wake-up call, ou seja, o chamado individual e diário diante do espelho para que você reflita se seu comportamento, atitudes e escolhas são favoráveis ao seu envelhecimento com qualidade. É o comece agora, pois “quanto mais cedo melhor, mas nunca é tarde demais”, destacou. Para a médica e docente do Departamento de Prática de Saúde Pública da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, Marilia Louivision, todo mundo já tem mais ou menos a ideia do que é preciso ser feito. Mas isso envolve escolhas diárias. “O importante não é tanto saber o que vai acontecer com a gente, mas o que fazemos com as coisas que nos acontecem", acrescentou.


Para Marília, a chave para lidar com as adversidades da vida longeva é a resiliência. “Para viver com menos stress, precisamos reagir de forma diferente. Temos de nos adaptar ao que está acontecendo, senão a vida ficará frustrante”, disse. Hoje, a medicina já estuda a “reserva cognitiva”, que, segundo a médica, é o acumulo de informações e experiências que impedirá a progressão de doenças degenerativas, como o Alzheimer. “Nas pessoas que fizeram a reserva cognitiva, a doença se manifestará tardiamente”, disse. Segundo Marília, os órgãos declinam sua função ao longo do tempo, mas o problema é quando a doença se instala. Por isso, além de vacinas, ela indica novos métodos que utilizam a tecnologia para auxiliar no diagnóstico precoce de doenças.


A chave para uma vida melhor

No pilar social, a fundadora e diretora do Centro de Bem-Estar e Resiliência da Austrália, Gabrielle Kelly, apresentou as estratégias para ampliar e fortalecer as relações humanas, ratificando a ideia de que nunca é tarde para começar. "Cada conhecimento que adquirimos pode nos levar a mudar hábitos e padrões de comportamento. O que precisamos é ensinar as pessoas a fazer isso, dar a elas a consciência de que o aprendizado é a chave para uma vida melhor”.


No âmbito da demografia, a diretora do Instituto de Gerontologia, Departamento de Ciências Sociais, Saúde e Medicina da King’s College London, Karen Glaser, mostrou algumas estatísticas que deram uma ideia do tamanho do desafio enfrentado pelo Brasil. Se a França levou 115 anos para ver o percentual da população de idosos crescer 14%, os brasileiros levaram apenas 21 anos para atingir a marca. “Nesse cenário, não se pode pensar em se aposentar aos 53 anos, tendo uma expectativa de vida de 75 anos. Isso não é sustentável”, afirmou Glaser.


O pilar financeiro foi abordado pelo economista Paulo Tafner, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), e pela jornalista Mara Luquet, que falaram sobre o desafio de equilibrar as contas numa vida longeva. O economista alertou para o fato de o Brasil estar envelhecendo muito rapidamente e mostrou como a pirâmide mudou. "O maior problema disso é que houve uma explosão de gastos com a previdência, sem a geração de receita correspondente. Nossa taxa de envelhecimento foi de 86%, enquanto a dos gastos chegou a 256% entre 1988 e 2015".


Sobre o pilar do conhecimento, o pesquisador do Laboratório de Neurociência Clinicas (LinC) da escola Paulista de Medicina da UNIFEST, Pedro Calabrez, falou sobre os processos de aprendizagem para manter a mente ativa. Ele criticou o imediatismo de nossa sociedade, observando que é preciso promover a consistência, deixando de lado a preguiça para se adquirir conhecimento. “Fazer nosso cérebro construir novas estradas, como aprender outro idioma ou música, por exemplo, pode atrasar em até cinco anos a manifestação do Alzheimer".


Fonte: Revista APTS Notícias (ed. 128) – PDF |Online

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