Advogado exalta a genialidade e ética do ex-presidente da APTS, seu amigo há décadas, que faleceu no dia 1º de outubro.
LUIS LOPEZ VÁZQUEZ
Luis Lopez Vázquez morreu. Antes de tudo, ele foi um grande e querido amigo. Durante décadas tive o privilégio de dividir sua amizade e sua capacidade de trabalho. Aprendi muito com ele, especialmente no campo da ética, do bom procedimento, da lisura e da transparência.
No auge de nossa colaboração demos início a uma série de seminários intitulados “Ética e Transparência na Atividade Seguradora”, que durante anos foi um marco nos eventos do setor. Evento de curta duração, meio dia no máximo, o seminário colocava discussões importantes sobre temas que afetavam o setor de seguros, sob as mais variadas óticas, invariavelmente complementadas pela palestra de um Ministro do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça, além de grandes nomes do Tribunal de Justiça de São Paulo, como o Desembargador José Renato Nalini, um dos maiores especialistas em ética do país.
Foi um tempo mágico, no qual a montagem do seminário envolvia profundas reflexões sobre os assuntos a serem abordados, o que demandava meses de discussões, antes de definirmos a pauta.
Sem a parceria, ou cumplicidade, de Luis Lopez Vázquez, eu não teria conseguido colocar de pé esse projeto. Era grande demais só para mim. A colaboração desinteressada, idealista e cheia de fé do meu grande amigo facilitava tudo, desde conseguir as verbas necessárias até a escolha do local e a montagem final para o circo pegar fogo.
Mas Luis Lopez Vázquez é muito maior do que uma série de seminários realizados comigo. Ele teve forte presença em todos os campos da atividade seguradora, tendo sido parceiro do Grupo Mapfre logo que os espanhóis chegaram ao Brasil, corretor de seguros, consultor, professor e presidente da Associação Paulista de Técnicos de Seguro (APTS), uma organização que prestou os mais relevantes serviços no estudo e no ensino do seguro, especialmente pela abordagem técnica dos vários desafios do setor, na maior parte das vezes, com a visão do “técnico de seguro”, aquele profissional que atua nas áreas diretamente vinculadas com apólices, clausulados, coberturas, sinistros e pagamentos das indenizações.
As “Palestras do Meio-Dia” foram, durante vários anos, importante fórum de discussões sobre temas diretamente relacionados com a atividade. Sempre com um especialista fazendo uma palestra sobre assuntos que afetam diretamente o desenvolvimento do negócio do seguro, estes encontros reuniam seguradores, securitários, corretores de seguros e prestadores de serviços, permitindo uma discussão abrangente com visões diferentes sobre a realidade do mercado.
Luis Lopez Vázquez teve a genialidade de criar na APTS um “Conselho de Notáveis”, do qual participavam os principais executivos das maiores seguradoras, os mais destacados corretores de seguros, as lideranças e os grandes especialistas em seguros à época.
As ideias geradas por essa usina de força invariavelmente se transformavam em realidade, fosse através de eventos integralmente promovidos pela APTS, fosse em parceria com outras instituições. E quem ganhava era o mercado, que tinha eventos acessíveis à disposição de seus profissionais.
Um dos traços marcantes de Luis Lopez Vázquez era seu compromisso inabalável com o mais alto padrão ético. Ele não transigia e, se tivesse que deixar de fazer alguma coisa porque não estava satisfeito com a forma como ela se desenrolava, ele não tinha o menor problema em cancelá-la. Fazia de consciência tranquila, com a certeza de que era melhor não fazer do que fazer deixando qualquer dúvida sobre a lisura dos procedimentos.
A vida ensina que ninguém é insubstituível. Há alguns anos, Vázquez lutava bravamente contra o Mal de Parkinson, que acabou por afastá-lo do dia a dia do mercado e, principalmente, de sua amada APTS.
Gente nova ocupou seu lugar e o setor de seguros está pronto para um salto gigantesco, capaz de dobrar seu faturamento em poucos anos.
É pena que ele não vá assistir isso. Por tudo que ele fez pelo seguro nacional, Luis Lopez Vázquez deveria estar sentado na primeira fila, aplaudindo o novo cenário da atividade que ele amou com paixão.
Antônio Penteado Mendonça
Fonte: Sindseg-SP