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Affonso Fausto: Memórias de um desbravador do seguro

Trajetória marcada na área de previdência privada consagra a atuação de um homem que fez muito em sua área.



O advogado e consultor paulistano Affonso Heleno de Oliveira Fausto não é apenas um profissional competente do setor de seguros. É mais que isso. Formado pela Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie, em 1960, e com alguns cursos de especialização em outras áreas na Universidade de Nova York, ele desenvolveu inúmeras atividades em várias empresas e foi um dos personagens atuantes no desenvolvimento da previdência privada no país. Hoje, aos 77 anos e com pouco mais de cinco décadas de atuação profissional, assumiu novos desafios no posto de presidente da consagrada Sociedade Brasileira de Ciências do Seguro (SBCS).


“O trabalho tudo cura, até doenças e frustrações. A amizade dos amigos, o relacionamento fraternal e o interesse pelas áreas de seguro e previdência me mantém vivo e atuante”, diz, resumindo sua lição de vida. Na década de 70, Fausto foi gerente responsável pelas áreas social, médica e de assistência jurídica aos empregados da Volkswagen do Brasil e da área administrativa da Petroquímica União. Na área do direito, ocupou duas funções importantes – como procurador do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo (Ipesp) e assistente executivo da diretoria de Relações Industriais da MBR Minerações Brasileiras Reunidas e do Grupo Caemi.


Ele se recorda com carinho de uma experiência marcante na sua carreira, em 1974, quando criou a Fundação Caemi. “Era a primeira entidade fechada de previdência vinculada a um grupo empresarial privado”, diz. Além de fundador, foi diretor-gerente até 1981, responsável pela implantação, desenvolvimento e operacionalização de planos previdenciários. Segundo o advogado, o grupo reunia em sua órbita 26 empresas situadas em 56 pontos diferentes do país.


Daquela época, narra um caso pitoresco: “Quando obtivemos a autorização para o funcionamento da Fundação Caemi de Previdência Privada, saímos para um road show por aqueles 56 locais, a fim de conseguir a adesão dos funcionários. Viajamos de trem, de automóvel, avião e até pela Estrada de Ferro Amapá (EFA), parando em pontos estratégicos, bem ao norte do Equador”. Fausto desbravou uma parte do Brasil.


Atribuir a Fausto a condição de desbravador do seguro não é exagero. Ele foi um dos co-autores da Lei 6.435/77, que instituiu a previdência privada no Brasil, atuando em Brasília (DF) junto aos Poderes Legislativo e Executivo. A lei foi promulgada pelo então presidente Ernesto Geisel. Graças a Fausto, a Prever S/A tornou-se realidade. Na empresa fez de tudo (ou quase), assumindo a responsabilidade pelo desenvolvimento de planos e a operacionalização. “Exerci praticamente todas as funções diretivas até janeiro de 1992”, ressalta.


Fausto menciona duas outras experiências que considera gratificantes: foi consultor de Benefícios da Icatu Hartford Seguros (entre 1997 e 2005) e sócio e presidente da Controlbanc Consultoria até janeiro de 1997. Na Controlbanc, prestou também vários serviços – desde estudos para constituição de sociedades seguradoras, assessoria jurídica especializada até formatação de produtos. Como consultor, assistiu à primeira venda de um plano de previdência privada da ItaúPrev estruturado por ele próprio.


Em matéria de previdência complementar, Fausto foi testemunha e ao mesmo protagonista de fatos marcantes. Senão vejamos: ele promoveu o 1º Congresso Internacional de Previdência Privada no Brasil, no Rio de Janeiro; ao lado do professor Oswaldo Gusmão, estruturou o conteúdo da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Privada (Abrapp) e instituiu a Academia Nacional de Seguros e Previdência ao lado do empresário Fernando Silveira e do economista e jurista Manuel Soares Povoas, um dos baluartes do setor.


Aliás, a participação de Fausto em entidades do setor remonta a 1982, quando fundou a Abrapp. Foi membro do Conselho de Gestão da Previdência Complementar, do Ministério de Previdência e Assistência Social, diretor do Sindicato das Entidades Abertas de Previdência Privada (Sindepp-SP). Hoje, é sócio da APTS e presidente da SBCS.


Na vida acadêmica, foi professor dos cursos de Habilitação de Corretores da Funenseg (Escola Nacional de Seguros) e lecionou Direito do Seguro, Previdência Complementar e de Metodologia Científica nas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), até 2010. “Ainda ministro algumas palestras e procuro manter por escrito as histórias que marcaram esses quase 60 anos de atividades profissionais”, complementa Fausto.


Ética e sabedoria

O advogado sempre manteve uma vida equilibrada, sem exageros de qualquer espécie. É casado há 51 anos com Marita Rodrigues de Oliveira Fausto, possui dois filhos – Carlos Alberto, 50 anos, economista e corretor de seguros, e Helena, 47, advogada tributarista, e dois netos, João, 19, e Anna, 10 anos. Pai amoroso e avô dedicado, Fausto preza a família como um patrimônio e orgulha-se de deixar um legado de ética e sabedoria.


Fausto é um homem paciente. “E estudioso também”, emenda. “Sou muito curioso em relação às atividades mecânicas e à evolução de conceitos e comportamentos atuais, sem incluir um juízo de valor”, avisa. O septuagenário gosta de ler – e não apenas temas ligados à sua atividade diária, como bem afirmou. Escreve regularmente: é articulista nos veículos da imprensa especializada em seguros. Na mídia eletrônica já opinou no Canal IG e na Rádio Eldorado, entre outros.


Durante suas inúmeras atividades, o consultor viajou muito, sobretudo quando atuava na Caemi. Em 1980, ele passou 180 dias fora de sua “base”, percorrendo o interior do Brasil. Conheceu a Ilha de Marajó e o então Território do Amapá. Uma experiência indescritível que lhe não sai da memória. “Vale a pena conhecer o Brasil, do extremo Norte até o Sul gelado, antes de sair para o exterior. Se fosse governante, eu proibiria... Aí está um traço autoritário que sutilmente escondi!”, diz, em tom de brincadeira.


Fausto tem um objetivo claro: desenvolver a SBCS, revivendo, assim, “os períodos áureos”, sempre com a ajuda de seu fiel escudeiro, o secretário-executivo da entidade, José Agostinho Gonçalves. É normal alguém aproximar-se dele e perguntar como consegue manter essa mesma energia da época da juventude. Como já mencionado aqui, nesta matéria, a resposta é: dedicação ao trabalho.

E mais: “Alimento-me bem, mas não em demasia, bebo pouco, durmo o suficiente e leio muito. Não tenho um segredo específico para manter a forma, mas quando jovem, fui oficial de Infantaria. Andei, marchei e corri muito por alguns anos. Também nadei muito”. E parafraseando o próprio Fausto, uma frase emblemática – audaces fortuna juvat (tradução livre “a sorte ajuda aos que ousam”).


Fonte: Revista APTS Notícias – edição 112. Autor: Carlos Pacheco

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